domingo, setembro 07, 2003
Como se sabe, João Bénard da Costa foi, durante vários anos, colaborador no Independente. Resultado disso, existem dois livros que contêm textos que apareceram primeiro nas páginas desse semanário - Os Filmes Da Minha Vida e Muito Lá De Casa - ambos publicados pela Assírio e Alvim. Para além destes livros, existem muitos outros em que se podem encontrar textos de João Bénard da Costa, como é o caso de quase todas as publicações que saem da Cinemateca. Muito especialmente aqueles livros que compilam as chamadas «folhas da Cinemateca». O dedicado ao Luis Buñuel é inteiramente escrito por JBC.
sexta-feira, setembro 05, 2003
As Almas do Outro Mundo
1 - Sophia de Mello Breyner Andresen contou-me um dia uma história fantástica, das mais fantásticas histórias dela.
Estava a entrar em casa, bastante noite. Quando ia acender a luz do patamar, sentiu-se agarrada por um braço. Lá conseguiu chegar ao interruptor e deu de caras com um homem de mau aspecto, que certamente nada tinha a ver com aquele "voyou" de Apollinaire, de um dos poemas favoritos dela e de Menez: "Un soir de demi-brume à Londres / Un voyou qui ressemblait à / Mon amour vint à ma rencontre / Et le regard qu'il me jeta / Me fit baisser les yeux de honte." Não, esse "mauvais garçon" (nem sei se era rapaz, ou homem feito, ou velho) não assobiou de mãos nos bolsos, mas exigiu-lhe a carteira. "Ah! - disse Sophia - o susto que o senhor me pregou! Pensei que era um fantasma, afinal é só um ladrão." Ia-lhe passar a carteira. Mas foi a vez do ladrão se assustar com tal reacção, a única que jamais esperou. Correu para a porta e fugiu espavorido. Sophia costuma dizer que só há duas coisas que lhe metem muito medo: elevadores e fantasmas. Uma vez, nos tempos da PIDE, chamada para um interrogatório, recusou-se a subir de elevador e contou a um agente, certamente tão atónito como o ladrão do vão de escada, desses seus dois medos. Polícias e ladrões eram coisa nenhuma em comparação com coisas assombradas ou com coisas assombrosas.
2 - Nunca estive numa casa assombrada nem nunca me apareceu o fantasma de ninguém. Mas, muito ao contrário de Sophia e sem querer brincar com coisas sérias, os fantasmas não me metem muito medo e histórias deles (inevitavelmente penso em "The Ghost and Mrs Muir", de Mankiewicz, que em português se chamou "O Fantasma Apaixonado") sempre me atraíram. Chegar, como Mrs Muir, a uma velha casa à beira-mar, adormecer numa cadeira de balouço de uma grande sala envidraçada e, de repente, abrir-se a janela e aparecer um capitão dos mares do Norte, todo de negro vestido, suicida de outrora... Histórias dessas levaram-me sempre à certa, como sempre me irritaram os fantasmas galhofeiros, género Canterville. Se há almas que vêm do outro mundo a este, ou, penadas, neste ficaram, nunca podem cá vir para se divertir ou nunca podem andar por castelos ou cemitérios a levantar as saias às meninas ou a arriar as calças aos homens.
3 - Falei de "The Ghost and Mrs Muir", meu amadíssimo filme, que há 24 anos me persegue, em efígie, por todas as casas onde morei e moro.
Mas o filme de fantasmas que hoje me puxou para os aléns não foi esse, nem é, literalmente falando, um filme de "poltergeists". Trata-se de "Enchantment", obra realizada em 1948 por um certo Irving Reis (e digo certo por que na sua curta vida foi muito incerto) com Teresa Wright e David Niven nos principais papéis.
Vi esse filme, pela primeira vez, em 1950, tinha eu 15 anos. Não direi que me lembro como se fosse hoje (nunca nada se lembra dessa maneira), mas lembro-me o mais aproximadamente possível do que essa expressão dá a entender. Ou seja, fecho os olhos e volto a ver muito do que há para ver, fecho os ouvidos e volto a ouvir muito do que há para ouvir, fecho os olhos e fecho os ouvidos e volto a ver e a ouvir tantas pessoas que já morreram, que viram o filme quando eu vi e que falaram do filme, diante de mim, de forma a que eu os ouvisse.
Eu disse que não era um filme de "poltergeists" nem de aléns com estrelinhas? Disse e repito. Mas era o filme em que havia uma moradia de dois andares, sótão e cave, com razoável número de quartos (em 1948 ainda não existia, graças a Deus, a horrível palavra "assoalhadas"). Ora quando uma jovem tenente americana (uma tenente, disse bem) pedia ao velho general, seu tio-avô e dono da casa, que a deixasse ficar por lá o tempo em que ela ficasse por Londres ("Enchantment" passa-se em Londres, durante a Segunda Guerra Mundial), num dos muitos "empty rooms" que seguramente na casa existiriam, o rabugento Sir Roland responde-lhe: "Quartos vazios nesta casa é coisa que não há."
Sir Roland vivia sozinho com o mordomo. Mas a rapariga, que acabou por ficar, descobriu que realmente nenhum quarto estava vazio. Todos eram habitados pelos fantasmas dos que neles haviam dormido, 50 anos antes.
Assim, pouco a pouco, muito nesse estilo dos "forties", que eu amo como só amo os romances de cavalaria ou as passagens dos recitativos às árias nas óperas de Bellini ou Donizetti, começava o "flash-back" que nos levava à infância do general e à noite em que, menina e órfã, o pai tinha levado para casa Lark, a do nome de cotovia. Desde essa noite, odeia a odiosa irmã de Rollo (vale para Roland), Selina de seu nome. Crianças crescem muito depressa ou muito devagar. Entre voltar ao presente e regressar ao passado, Rollo e Lark cresciam dos cinco para os 20 anos. Amavam-se em crianças, apaixonavam-se quando deixavam de o ser. Mas o ódio de Selina era maior do que a paixão deles. Numa noite se pode perder uma vida. A vida deles perdeu-se numa noite. Rollo, sempre nessa noite, jurava à irmã que, se perdesse Lark por causa dela, nunca mais entraria naquela casa enquanto ela fosse viva. Cumpria a promessa. Voltava, depois da morte da irmã. E, quando chegavam a sobrinha americana e um sobrinho de Lark, percebia que Lark regressaria também, para que os dois soldadinhos vivessem o que eles tinham deixado de viver. "Don't bargain with happiness" dizia o general à tenente. Depois, ficava a conversar com o fantasma de Lark, que morrera pouco antes num lago da Suíça.
Rever um filme que muito se reviu e em muito diferentes tempos da vida é rever também o fantasma desse filme. Mas da última vez que o vi - e foi na segunda-feira passada, na reabertura da Cinemateca - revi não só esses conhecidos fantasmas, como os fantasmas a quem já me referi dos que comigo viram o filme em 1950.
Selina, por exemplo. A actriz (Jayne Meadows), celebérrima no teatro e na televisão, raramente foi vista em filmes. É uma presença quase tão forte como a de Teresa Wright. Chamei-lhe odiosa. Odiosa ela é. E má. Mas morreu há muito pouco tempo a Mulher que, em 1950, quando tinha o dobro da minha idade, disse e eu ouvi: "Má? Não acho. É uma maneira de ser." Para mim, essa conversa faz "raccord" com outra, que também nunca mais esqueci, em que a mesma pessoa falou amargamente do que se sofre quando se perde no amor ou em amor. Só a compreendi muitos anos depois, quando ouvi "O Ouro do Reno" com ouvidos de ver. Era o tema da renúncia ao amor que pela primeira vez eu ouvia. Tanto na empatia com Selina (e é bem verdade que é uma maneira de ser) como no muro que aqueles imensos olhos azuis começavam a amassar para se proibir de amar.
Assim, essa Mulher que eu não via há quase tanto tempo como Lark e Rollo estiveram sem se ver, essa Mulher que morreu sem saber que foi uma das figuras mais recorrentes dos meus sonhos de toda a noite em vida, essa Mulher voltou, trazida por Selina, vinda do outro mundo para me fazer ouvir o tema da redenção pelo amor. O tema de Lark, vestida de arminho ou de prata, trazendo na mão um cravo púnico ou uma rosa da Pérsia.
Demorei-me em Selina. Abreviei em Lark. Mas vieram outros fantasmas, muito mais da família de Lark do que da família de Selina. Fantasmas que nunca mais esqueceram aquela tarde de raios e coriscos em que Lark, tão, tão pequenina, se levantava da mesa com o beiço a tremer e Rollo lhe projectava coelhinhos nas sombras das paredes. Ou o vestido de baile de Lark na noite de todas as esperanças e todas as desesperanças. Ou o único beijo de David Niven a Teresa Wright.
À medida que o filme passava (passam a 24 imagens por segundo, sabiam?) eu via e ouvia, no mesmo plano, Teresa Wright, David Niven e Jayne Meadows, ao lado de todos os fantasmas dos meus anos 50, ali tão presentes e tão fantomáticos como a irradiante aparência de corpos irrepetíveis. Como se todos estivéssemos a ver o filme juntos e a sermos simultaneamente os personagens deles e as consciências dos personagens deles. Fixar o fundo das pupilas mais móveis. Ouvir "o barulho do tempo". Se a eles, todos eles, não chamo almas do outro mundo, que nome lhes hei-de chamar? Nunca me foram fantasmas de medo, mas de companhia.
4 - "A vida é tanto lenta. A Esperança é tão violenta". Apollinaire, que me veio pela voz de Sophia, aparece no fim, em tradução livre de "Le Pont Mirabeau". Esta foi a semana das nuvens. A semana dos doces fantasmas. Aliás, bem me preveniram que, quando chegasse a noite, me viriam vulnerar.
P.S. 1 - Eduardo Prado Coelho desapontou-me. Não me explicou o que era o "orgasmo vertical" e deixou-me com dois outros enigmas: o que é o "orgasmo horizontal"? O que são os "axiomas da geometria libidinal"? "Mete-se pelos olhos dentro"? Oh Eduardo Prado Coelho, se a sua avozinha o ouvisse...
P.S. 2 - Vou para férias. Por isso, estas crónicas só voltarão a aparecer no dia 3 de Outubro, se Deus quiser.
João Bénard da Costa 5 de Setembro de 2003 in Público
Estava a entrar em casa, bastante noite. Quando ia acender a luz do patamar, sentiu-se agarrada por um braço. Lá conseguiu chegar ao interruptor e deu de caras com um homem de mau aspecto, que certamente nada tinha a ver com aquele "voyou" de Apollinaire, de um dos poemas favoritos dela e de Menez: "Un soir de demi-brume à Londres / Un voyou qui ressemblait à / Mon amour vint à ma rencontre / Et le regard qu'il me jeta / Me fit baisser les yeux de honte." Não, esse "mauvais garçon" (nem sei se era rapaz, ou homem feito, ou velho) não assobiou de mãos nos bolsos, mas exigiu-lhe a carteira. "Ah! - disse Sophia - o susto que o senhor me pregou! Pensei que era um fantasma, afinal é só um ladrão." Ia-lhe passar a carteira. Mas foi a vez do ladrão se assustar com tal reacção, a única que jamais esperou. Correu para a porta e fugiu espavorido. Sophia costuma dizer que só há duas coisas que lhe metem muito medo: elevadores e fantasmas. Uma vez, nos tempos da PIDE, chamada para um interrogatório, recusou-se a subir de elevador e contou a um agente, certamente tão atónito como o ladrão do vão de escada, desses seus dois medos. Polícias e ladrões eram coisa nenhuma em comparação com coisas assombradas ou com coisas assombrosas.
2 - Nunca estive numa casa assombrada nem nunca me apareceu o fantasma de ninguém. Mas, muito ao contrário de Sophia e sem querer brincar com coisas sérias, os fantasmas não me metem muito medo e histórias deles (inevitavelmente penso em "The Ghost and Mrs Muir", de Mankiewicz, que em português se chamou "O Fantasma Apaixonado") sempre me atraíram. Chegar, como Mrs Muir, a uma velha casa à beira-mar, adormecer numa cadeira de balouço de uma grande sala envidraçada e, de repente, abrir-se a janela e aparecer um capitão dos mares do Norte, todo de negro vestido, suicida de outrora... Histórias dessas levaram-me sempre à certa, como sempre me irritaram os fantasmas galhofeiros, género Canterville. Se há almas que vêm do outro mundo a este, ou, penadas, neste ficaram, nunca podem cá vir para se divertir ou nunca podem andar por castelos ou cemitérios a levantar as saias às meninas ou a arriar as calças aos homens.
3 - Falei de "The Ghost and Mrs Muir", meu amadíssimo filme, que há 24 anos me persegue, em efígie, por todas as casas onde morei e moro.
Mas o filme de fantasmas que hoje me puxou para os aléns não foi esse, nem é, literalmente falando, um filme de "poltergeists". Trata-se de "Enchantment", obra realizada em 1948 por um certo Irving Reis (e digo certo por que na sua curta vida foi muito incerto) com Teresa Wright e David Niven nos principais papéis.
Vi esse filme, pela primeira vez, em 1950, tinha eu 15 anos. Não direi que me lembro como se fosse hoje (nunca nada se lembra dessa maneira), mas lembro-me o mais aproximadamente possível do que essa expressão dá a entender. Ou seja, fecho os olhos e volto a ver muito do que há para ver, fecho os ouvidos e volto a ouvir muito do que há para ouvir, fecho os olhos e fecho os ouvidos e volto a ver e a ouvir tantas pessoas que já morreram, que viram o filme quando eu vi e que falaram do filme, diante de mim, de forma a que eu os ouvisse.
Eu disse que não era um filme de "poltergeists" nem de aléns com estrelinhas? Disse e repito. Mas era o filme em que havia uma moradia de dois andares, sótão e cave, com razoável número de quartos (em 1948 ainda não existia, graças a Deus, a horrível palavra "assoalhadas"). Ora quando uma jovem tenente americana (uma tenente, disse bem) pedia ao velho general, seu tio-avô e dono da casa, que a deixasse ficar por lá o tempo em que ela ficasse por Londres ("Enchantment" passa-se em Londres, durante a Segunda Guerra Mundial), num dos muitos "empty rooms" que seguramente na casa existiriam, o rabugento Sir Roland responde-lhe: "Quartos vazios nesta casa é coisa que não há."
Sir Roland vivia sozinho com o mordomo. Mas a rapariga, que acabou por ficar, descobriu que realmente nenhum quarto estava vazio. Todos eram habitados pelos fantasmas dos que neles haviam dormido, 50 anos antes.
Assim, pouco a pouco, muito nesse estilo dos "forties", que eu amo como só amo os romances de cavalaria ou as passagens dos recitativos às árias nas óperas de Bellini ou Donizetti, começava o "flash-back" que nos levava à infância do general e à noite em que, menina e órfã, o pai tinha levado para casa Lark, a do nome de cotovia. Desde essa noite, odeia a odiosa irmã de Rollo (vale para Roland), Selina de seu nome. Crianças crescem muito depressa ou muito devagar. Entre voltar ao presente e regressar ao passado, Rollo e Lark cresciam dos cinco para os 20 anos. Amavam-se em crianças, apaixonavam-se quando deixavam de o ser. Mas o ódio de Selina era maior do que a paixão deles. Numa noite se pode perder uma vida. A vida deles perdeu-se numa noite. Rollo, sempre nessa noite, jurava à irmã que, se perdesse Lark por causa dela, nunca mais entraria naquela casa enquanto ela fosse viva. Cumpria a promessa. Voltava, depois da morte da irmã. E, quando chegavam a sobrinha americana e um sobrinho de Lark, percebia que Lark regressaria também, para que os dois soldadinhos vivessem o que eles tinham deixado de viver. "Don't bargain with happiness" dizia o general à tenente. Depois, ficava a conversar com o fantasma de Lark, que morrera pouco antes num lago da Suíça.
Rever um filme que muito se reviu e em muito diferentes tempos da vida é rever também o fantasma desse filme. Mas da última vez que o vi - e foi na segunda-feira passada, na reabertura da Cinemateca - revi não só esses conhecidos fantasmas, como os fantasmas a quem já me referi dos que comigo viram o filme em 1950.
Selina, por exemplo. A actriz (Jayne Meadows), celebérrima no teatro e na televisão, raramente foi vista em filmes. É uma presença quase tão forte como a de Teresa Wright. Chamei-lhe odiosa. Odiosa ela é. E má. Mas morreu há muito pouco tempo a Mulher que, em 1950, quando tinha o dobro da minha idade, disse e eu ouvi: "Má? Não acho. É uma maneira de ser." Para mim, essa conversa faz "raccord" com outra, que também nunca mais esqueci, em que a mesma pessoa falou amargamente do que se sofre quando se perde no amor ou em amor. Só a compreendi muitos anos depois, quando ouvi "O Ouro do Reno" com ouvidos de ver. Era o tema da renúncia ao amor que pela primeira vez eu ouvia. Tanto na empatia com Selina (e é bem verdade que é uma maneira de ser) como no muro que aqueles imensos olhos azuis começavam a amassar para se proibir de amar.
Assim, essa Mulher que eu não via há quase tanto tempo como Lark e Rollo estiveram sem se ver, essa Mulher que morreu sem saber que foi uma das figuras mais recorrentes dos meus sonhos de toda a noite em vida, essa Mulher voltou, trazida por Selina, vinda do outro mundo para me fazer ouvir o tema da redenção pelo amor. O tema de Lark, vestida de arminho ou de prata, trazendo na mão um cravo púnico ou uma rosa da Pérsia.
Demorei-me em Selina. Abreviei em Lark. Mas vieram outros fantasmas, muito mais da família de Lark do que da família de Selina. Fantasmas que nunca mais esqueceram aquela tarde de raios e coriscos em que Lark, tão, tão pequenina, se levantava da mesa com o beiço a tremer e Rollo lhe projectava coelhinhos nas sombras das paredes. Ou o vestido de baile de Lark na noite de todas as esperanças e todas as desesperanças. Ou o único beijo de David Niven a Teresa Wright.
À medida que o filme passava (passam a 24 imagens por segundo, sabiam?) eu via e ouvia, no mesmo plano, Teresa Wright, David Niven e Jayne Meadows, ao lado de todos os fantasmas dos meus anos 50, ali tão presentes e tão fantomáticos como a irradiante aparência de corpos irrepetíveis. Como se todos estivéssemos a ver o filme juntos e a sermos simultaneamente os personagens deles e as consciências dos personagens deles. Fixar o fundo das pupilas mais móveis. Ouvir "o barulho do tempo". Se a eles, todos eles, não chamo almas do outro mundo, que nome lhes hei-de chamar? Nunca me foram fantasmas de medo, mas de companhia.
4 - "A vida é tanto lenta. A Esperança é tão violenta". Apollinaire, que me veio pela voz de Sophia, aparece no fim, em tradução livre de "Le Pont Mirabeau". Esta foi a semana das nuvens. A semana dos doces fantasmas. Aliás, bem me preveniram que, quando chegasse a noite, me viriam vulnerar.
P.S. 1 - Eduardo Prado Coelho desapontou-me. Não me explicou o que era o "orgasmo vertical" e deixou-me com dois outros enigmas: o que é o "orgasmo horizontal"? O que são os "axiomas da geometria libidinal"? "Mete-se pelos olhos dentro"? Oh Eduardo Prado Coelho, se a sua avozinha o ouvisse...
P.S. 2 - Vou para férias. Por isso, estas crónicas só voltarão a aparecer no dia 3 de Outubro, se Deus quiser.
João Bénard da Costa 5 de Setembro de 2003 in Público
quarta-feira, setembro 03, 2003
O Orgasmo Vertical
1 - Vou começar por nada. Aquele delicioso provérbio que diz "o nada fazê-lo em casa", que pode ter tantos sentidos quantos os sentidos que lhe quisermos dar (de sentidos também vou hoje falar muito). Ou aquele espantosa expressão jurídica, já usada por David Mourão-Ferreira para título de um conto: "Aos costumes disse nada." Costumes, neste último caso, eram (são?) as relações de parentesco, amizade, ódio que têm as testemunhas em relação às pessoas sobre as quais vão depor. Juízes ou advogados podem (podiam?) invocá-las para invalidar um depoimento. Mas, se achavam que não eram essas relações que punham em causa o testemunho, aos costumes diziam nada. Se já houvesse um poucachinho, um todo nada, ou um tudo-nada, lá se ia a testemunha. Já os costumes tinham que se lhes dissesse, ou seja, já havia que dizer aos parentes, aos amantes, aos amigos, aos inimigos. E os costumes, que fez você aos costumes?
Neste caso, sou eu o costume e vou ter que me acostumar a que me digam tudo, ou, pelo menos, muito.
Mas já vou aos costumes. Por agora só quero dizer - a propósito do nada - que é dos costumes que toda a gente gosta de dizer tudo, sobretudo quando tem que ver com o nada que é de fazer em casa. Até porque, como também se diz, quem sempre se recata nunca acaba nada. Por isso, para me ir chegando aos sentidos, e aos costumes que hoje aqui me trouxeram, discordo de quem diz que, neste mês de Agosto, a imprensa de costumes aos costumes diz nada. Sejam eles questionários de Proust, sejam elas crónicas de jogos de Verão, vai-se dizendo muita coisa. Adequada? Eis a questão.
2 - Nesta semana dei comigo a ler uma entrevista com o psiquiatra José Gameiro ("DNA", 23 de Agosto), entrevista que muito entusiasmou o meu esporádico colega de página Eduardo Prado Coelho. Na dita entrevista, a entrevistadora (Anabela Mota Ribeiro) pede-lhe que explique porque é que "numa cidade como Lisboa um terço dos casamentos e uniões de facto se dissolvem".
Dissolver já teria que se lhe dissesse (o açúcar é que se dissolve no chá), mas sobre tal dissolução não se diz nada. O psiquiatra explica que esse facto sociológico está farto de ser explicado pela sociologia. Disserta sobre o aumento da esperança de vida e sobre a felicidade, que, afinal, não parece ser ideia nova do século XVIII (como pretendia Saint-Just antes de ser guilhotinado, supõe-se que com alguma infelicidade), mas do século XX ou XXI.
Antigamente (não percebi bem se falavam os sociólogos, se falava o psiquiatra), quando a esperança de vida era de 50 anos, as pessoas continuavam casadas, porque assim como assim não valia a pena muito barulho por causa de uma galinha que durava dez anos e mais nada (é claro que agora sou eu a falar e não José Gameiro, que é pessoa séria e não fala assim). Agora (volto a José Gameiro) "que a esperança de vida é 70 e tal, 80 anos", "aos 50 anos tenho a noção de que ainda vale a pena separar-me, ainda posso construir a felicidade". E assim, esperança de vida + felicidade + movimento das mulheres, "que foi decisivo e começou nos anos 60", aí temos o casamento no galheiro, ou, segundo Gameiro, "a vontade de repetir a dose". Logo, o aumento do divórcio é imparável. "No limite - e isto é muito discutível, é ficção científica - daqui a 50 anos a maior parte de nós terá dois casamentos." Há quem se fascine. O "o admirável caos do amor", titula Eduardo Prado Coelho (Agustina diz que o amor é o defeito que lhe inspira mais indulgência). Eu não percebo bem onde é que está a novidade. Henrique VIII, que não esperava viver até aos 70-80 anos e não tinha telemóvel (diz-se na entrevista que o telemóvel mudou muito as relações conjugais), casou seis vezes e só foi excepção porque no século XVI ainda não se usava a expressão "uniões de facto". Porque, se fôssemos a elas (de facto), verificávamos que a monogamia ou a monoandria nunca proliferaram entre o género humano.
A insistência da Igreja no pecado da carne não começou em 1960 e não foi mania de padres celibatários. Isto, para não ir até à civilização greco-romana ou a outras culturas a que a ideia de felicidade era alheia. Misturar sexo, felicidade, emancipação das mulheres e longevidade parece-me andar muito para trás em relação aos bons velhos tempos do dr. Freud, sem querer, nem por sombras, meter foice em seara alheia ou em casa de ferreiro espeto de pau.
3 - Hoje lêem-se estas tiradas. Há coisa de cem anos liam-se outras, igualmente aterradoras.
Digo-o, porque como conversa puxa conversa, me lembrei, a propósito do "puro sexo" de Gameiro e Prado Coelho, de uma terrífica descrição da morte de Antero, que em tempos li num dos volumes da "História de Portugal" de Pinheiro Chagas (daqueles já escritos depois da morte dele).
Porque se suicidou Antero, num banco de jardim público de Ponta Delgada, às 7 e meia da noite de 11 de Setembro, quando tinha apenas 49 anos? Se querem saber, vai ser uma longa citação:
"Anthero, porém, soffria também physicamente a terrível doença medular, gerada pelo seu vicio de onanista impenitente, e após a qual veio a neurathenia com todo o seu cortejo de inconcebíveis horrores. Anthero foi um desgraçado sublime, que não conheceu a suprema alacridade da vida - a mulher. Morreu sem saber o que era o amor, elle que tinha uma alma de poeta! Morreu sem haver conhecido a femea, elle que era uma virilidade mental do mais firme quilate!(...) Como Newton, como o Infante D. Henrique, como Latino Coelho, Anthero de Quental era um insexuado indifferente à femea e vivendo apenas de uma cerebrização superior, onde queimava, sem as naturaes compensações da carnalidade dos sexos ou dos sentimentos que os atrahe e une, todo o phosphoro do seu talento, toda a vibratilização dos seus músculos. Por isso envelhecera prematuramente, devorado por esse vicio atroz e repulsivo, que nem ao menos tem a defende-lo a delicadeza da arte ou a expressão de uma finura de gosto."
Longe de mim comparar esta assombrosa tese sobre o poeta dos sonhos e das incertezas com as hipóteses e os argumentos de José Gameiro. Mas, tal como há cem anos médicos e historiadores acreditavam nos "horrores" do "vicio atroz e repulsivo" e não hesitavam levar à conta dele o destino do Infante e o de Newton, hoje, virando totalmente o bico ao prego (salvo seja), o discurso da felicidade através de "caos do amor" da "repetição da dose", do sexo tântrico ou daquilo a que Eduardo Prado Coelho chama "uma espécie de orgasmo vertical", parece-me cada vez mais tão gerador de nadas como a pseudocientífica explicação para o suicídio de Antero.
Dislates contraditórios, mas dislates equivalentes. "A suprema alacridade da vida" ou a "sexualidade plena e eufórica" sem "perda térmica".
Libertámo-nos felizmente dos fantasmas de chagas, que ainda foram acenados dezenas de anos depois? Se nos libertámos (e não ponho as mãos no fogo, mais uma vez salvo seja), não nos libertámos, como também diz José Gameiro, e aí dou-lhe inteira razão, "de uma enorme pressão que é social, cultural e mediática, que associa a felicidade à actividade e à satisfação sexual".
4 - Voltando ao meu nada ou ao tudo-nada, porque nem nada nem tudo se casam com estes casamentos.
Se hoje é impossível levar a sério as páginas transcritas sobre a "terrível doença medullar" provocada pelo "vício impenitente" de Antero, elas, à época, não representavam excentricidade alguma (nem beatério, já que o autor não escamoteia o seu declarado anticlericatismo), mas ecoavam uma convicção "científica", uma convicção moral e uma convicção cultural.
Em todas as épocas, e em todas as discussões sobre sexo (das mais ortodoxas às mais heterodoxas), essas três ordens são convocadas ou para exorcizar "les mauvaises habitudes" (como dizia uma das inglesas do filme de Truffaut), ou para a apologia do excesso. Nos mais santos teólogos, como nos mais santos libertinos (em Sade, por exemplo) nunca faltaram a fundamentação "científica", a fundamentação moral e a fundamentação cultural. O nosso tempo não constitui qualquer excepção. O que julgam "novo" foi inventado pelo primeiro homem e pela primeira mulher, um com o outro ou um sem o outro.
"Não é que ser possível ser feliz acabe", como um dia escreveu Jorge de Sena, mas tudo é sempre igual doutra maneira. "Carta de Guia de Casados". Ou "ideias novas sobre o casamento". Se lermos bem, tirando alguns acidentes, o essencial ficou na mesma de D. Francisco Manuel ao dr. José Gameiro.
Qual essencial? Esse que estava na origem e estará no fim, onde não houve nem haverá homem nem mulher, metades separadas de um corpo único que se buscam num "hábito quebrado" que se não reata senão noutros lugares. Nos dias de ontem como nos dias de hoje, onde estão o homem e a mulher do "orgasmo vertical", no que quer que todo esse nada seja?
Voltando a Sena (volto sempre): "Quando, ah quando, os homens deixarão / de crer em tudo, de exigir que tudo / seja como tudo? Se tudo é como tudo / o nada é como o nada? Mas tautológico / é só o medo, o medo de escolher / entre duas coisas, dois entes, dois momentos."
O poema continua. Eu não. O "nada é fazê-lo em casa". Não em público. Muito menos n'o PÚBLICO.
Só mais um pedido mais para acabar menos solenemente. Como também "sempre quis saber tudo sobre sexo, mas tenho vergonha de perguntar", importava-se, Eduardo Prado Coelho, mesmo em carta particular, de me explicar o que é "o orgasmo vertical"?
João Bénard da Costa 29 de Agosto de 2003 in Público
Neste caso, sou eu o costume e vou ter que me acostumar a que me digam tudo, ou, pelo menos, muito.
Mas já vou aos costumes. Por agora só quero dizer - a propósito do nada - que é dos costumes que toda a gente gosta de dizer tudo, sobretudo quando tem que ver com o nada que é de fazer em casa. Até porque, como também se diz, quem sempre se recata nunca acaba nada. Por isso, para me ir chegando aos sentidos, e aos costumes que hoje aqui me trouxeram, discordo de quem diz que, neste mês de Agosto, a imprensa de costumes aos costumes diz nada. Sejam eles questionários de Proust, sejam elas crónicas de jogos de Verão, vai-se dizendo muita coisa. Adequada? Eis a questão.
2 - Nesta semana dei comigo a ler uma entrevista com o psiquiatra José Gameiro ("DNA", 23 de Agosto), entrevista que muito entusiasmou o meu esporádico colega de página Eduardo Prado Coelho. Na dita entrevista, a entrevistadora (Anabela Mota Ribeiro) pede-lhe que explique porque é que "numa cidade como Lisboa um terço dos casamentos e uniões de facto se dissolvem".
Dissolver já teria que se lhe dissesse (o açúcar é que se dissolve no chá), mas sobre tal dissolução não se diz nada. O psiquiatra explica que esse facto sociológico está farto de ser explicado pela sociologia. Disserta sobre o aumento da esperança de vida e sobre a felicidade, que, afinal, não parece ser ideia nova do século XVIII (como pretendia Saint-Just antes de ser guilhotinado, supõe-se que com alguma infelicidade), mas do século XX ou XXI.
Antigamente (não percebi bem se falavam os sociólogos, se falava o psiquiatra), quando a esperança de vida era de 50 anos, as pessoas continuavam casadas, porque assim como assim não valia a pena muito barulho por causa de uma galinha que durava dez anos e mais nada (é claro que agora sou eu a falar e não José Gameiro, que é pessoa séria e não fala assim). Agora (volto a José Gameiro) "que a esperança de vida é 70 e tal, 80 anos", "aos 50 anos tenho a noção de que ainda vale a pena separar-me, ainda posso construir a felicidade". E assim, esperança de vida + felicidade + movimento das mulheres, "que foi decisivo e começou nos anos 60", aí temos o casamento no galheiro, ou, segundo Gameiro, "a vontade de repetir a dose". Logo, o aumento do divórcio é imparável. "No limite - e isto é muito discutível, é ficção científica - daqui a 50 anos a maior parte de nós terá dois casamentos." Há quem se fascine. O "o admirável caos do amor", titula Eduardo Prado Coelho (Agustina diz que o amor é o defeito que lhe inspira mais indulgência). Eu não percebo bem onde é que está a novidade. Henrique VIII, que não esperava viver até aos 70-80 anos e não tinha telemóvel (diz-se na entrevista que o telemóvel mudou muito as relações conjugais), casou seis vezes e só foi excepção porque no século XVI ainda não se usava a expressão "uniões de facto". Porque, se fôssemos a elas (de facto), verificávamos que a monogamia ou a monoandria nunca proliferaram entre o género humano.
A insistência da Igreja no pecado da carne não começou em 1960 e não foi mania de padres celibatários. Isto, para não ir até à civilização greco-romana ou a outras culturas a que a ideia de felicidade era alheia. Misturar sexo, felicidade, emancipação das mulheres e longevidade parece-me andar muito para trás em relação aos bons velhos tempos do dr. Freud, sem querer, nem por sombras, meter foice em seara alheia ou em casa de ferreiro espeto de pau.
3 - Hoje lêem-se estas tiradas. Há coisa de cem anos liam-se outras, igualmente aterradoras.
Digo-o, porque como conversa puxa conversa, me lembrei, a propósito do "puro sexo" de Gameiro e Prado Coelho, de uma terrífica descrição da morte de Antero, que em tempos li num dos volumes da "História de Portugal" de Pinheiro Chagas (daqueles já escritos depois da morte dele).
Porque se suicidou Antero, num banco de jardim público de Ponta Delgada, às 7 e meia da noite de 11 de Setembro, quando tinha apenas 49 anos? Se querem saber, vai ser uma longa citação:
"Anthero, porém, soffria também physicamente a terrível doença medular, gerada pelo seu vicio de onanista impenitente, e após a qual veio a neurathenia com todo o seu cortejo de inconcebíveis horrores. Anthero foi um desgraçado sublime, que não conheceu a suprema alacridade da vida - a mulher. Morreu sem saber o que era o amor, elle que tinha uma alma de poeta! Morreu sem haver conhecido a femea, elle que era uma virilidade mental do mais firme quilate!(...) Como Newton, como o Infante D. Henrique, como Latino Coelho, Anthero de Quental era um insexuado indifferente à femea e vivendo apenas de uma cerebrização superior, onde queimava, sem as naturaes compensações da carnalidade dos sexos ou dos sentimentos que os atrahe e une, todo o phosphoro do seu talento, toda a vibratilização dos seus músculos. Por isso envelhecera prematuramente, devorado por esse vicio atroz e repulsivo, que nem ao menos tem a defende-lo a delicadeza da arte ou a expressão de uma finura de gosto."
Longe de mim comparar esta assombrosa tese sobre o poeta dos sonhos e das incertezas com as hipóteses e os argumentos de José Gameiro. Mas, tal como há cem anos médicos e historiadores acreditavam nos "horrores" do "vicio atroz e repulsivo" e não hesitavam levar à conta dele o destino do Infante e o de Newton, hoje, virando totalmente o bico ao prego (salvo seja), o discurso da felicidade através de "caos do amor" da "repetição da dose", do sexo tântrico ou daquilo a que Eduardo Prado Coelho chama "uma espécie de orgasmo vertical", parece-me cada vez mais tão gerador de nadas como a pseudocientífica explicação para o suicídio de Antero.
Dislates contraditórios, mas dislates equivalentes. "A suprema alacridade da vida" ou a "sexualidade plena e eufórica" sem "perda térmica".
Libertámo-nos felizmente dos fantasmas de chagas, que ainda foram acenados dezenas de anos depois? Se nos libertámos (e não ponho as mãos no fogo, mais uma vez salvo seja), não nos libertámos, como também diz José Gameiro, e aí dou-lhe inteira razão, "de uma enorme pressão que é social, cultural e mediática, que associa a felicidade à actividade e à satisfação sexual".
4 - Voltando ao meu nada ou ao tudo-nada, porque nem nada nem tudo se casam com estes casamentos.
Se hoje é impossível levar a sério as páginas transcritas sobre a "terrível doença medullar" provocada pelo "vício impenitente" de Antero, elas, à época, não representavam excentricidade alguma (nem beatério, já que o autor não escamoteia o seu declarado anticlericatismo), mas ecoavam uma convicção "científica", uma convicção moral e uma convicção cultural.
Em todas as épocas, e em todas as discussões sobre sexo (das mais ortodoxas às mais heterodoxas), essas três ordens são convocadas ou para exorcizar "les mauvaises habitudes" (como dizia uma das inglesas do filme de Truffaut), ou para a apologia do excesso. Nos mais santos teólogos, como nos mais santos libertinos (em Sade, por exemplo) nunca faltaram a fundamentação "científica", a fundamentação moral e a fundamentação cultural. O nosso tempo não constitui qualquer excepção. O que julgam "novo" foi inventado pelo primeiro homem e pela primeira mulher, um com o outro ou um sem o outro.
"Não é que ser possível ser feliz acabe", como um dia escreveu Jorge de Sena, mas tudo é sempre igual doutra maneira. "Carta de Guia de Casados". Ou "ideias novas sobre o casamento". Se lermos bem, tirando alguns acidentes, o essencial ficou na mesma de D. Francisco Manuel ao dr. José Gameiro.
Qual essencial? Esse que estava na origem e estará no fim, onde não houve nem haverá homem nem mulher, metades separadas de um corpo único que se buscam num "hábito quebrado" que se não reata senão noutros lugares. Nos dias de ontem como nos dias de hoje, onde estão o homem e a mulher do "orgasmo vertical", no que quer que todo esse nada seja?
Voltando a Sena (volto sempre): "Quando, ah quando, os homens deixarão / de crer em tudo, de exigir que tudo / seja como tudo? Se tudo é como tudo / o nada é como o nada? Mas tautológico / é só o medo, o medo de escolher / entre duas coisas, dois entes, dois momentos."
O poema continua. Eu não. O "nada é fazê-lo em casa". Não em público. Muito menos n'o PÚBLICO.
Só mais um pedido mais para acabar menos solenemente. Como também "sempre quis saber tudo sobre sexo, mas tenho vergonha de perguntar", importava-se, Eduardo Prado Coelho, mesmo em carta particular, de me explicar o que é "o orgasmo vertical"?
João Bénard da Costa 29 de Agosto de 2003 in Público